Olá!
A correria tem sido grande no entanto, o foco não pode ser esquecido e aqui estamos com uma experiência de noiva, diferente e claro pronta a surpreender.
A Júlia uma recém casada, conta-nos a sua experiência de casamento tradicional, em Portugal mas com raízes de Angola.
Dá-nos a conhecer cada detalhe desta cerimonia, alambamento ou pedido. Como é uma cerimonia tão importante e como se tornou algo com tanto significado para o casal.
Casamento tradicional? Porquê?
Aquilo a que chamamos de casamento tradicional na Europa e noutros lugares do mundo é a forma como em Angola, o nosso país (meu e do Josué), e em outros países africanos se celebra o casamento.
O vestido de noiva branco, o bolo de noivos e outros clichés relacionados a casamentos, foram adotados pelo povo africano por influência da cultura ocidental desde a época da colonização. Antes disso, o Alambamento ou Pedido era a única forma de casamento conhecida pelo povo africano.
Os nossos ancestrais, avós e pais continuam a valorizar e a considerar o Alambamento como o casamento, ainda que hoje seja tratado pelos mais jovens apenas como noivado.
Respeito pelas origens
Acreditamos que o respeito pela própria cultura é um dos pilares para a formação do carácter de qualquer homem ou mulher. Não fomos criados no nosso país de origem, mas as nossas famílias criaram-nos dentro dos moldes da nossa cultura.
Por esta razão não deixámos de fazer o Alambamento, apesar do nosso principal objetivo ter sido o casamento religioso.
A honra
Não foi uma questão só de respeito mas também de honra. O Josué honrou-me como esposa, a atitude dele em assumir a responsabilidade de entregar o dote como agradecimento à minha família pela mulher que ganhou, honrou-o como marido e a minha família reconheceu-o como um filho para eles.
Este é o verdadeiro sentido do Alambamento: Respeito, honra e compromisso diante das famílias. O objetivo do Alambamento é deixar provado o amor do noivo pela noiva. O esforço demonstrado pelo homem ao entregar o dote, revela a sua verdadeira intenção para com a mulher.
Como funciona?
A primeira coisa que o Josué precisou fazer foi pedir a minha mão em casamento ao meu pai através de uma carta enviada para Angola, fazendo menção das suas intenções e propondo uma data para o encontro entre as famílias aqui em Portugal.
Algumas semanas mais tarde o meu pai reuniu-se com os meus tios em Angola e juntos responderam ao pedido do Josué, com uma lista de coisas que desejavam receber como dote. No alambamento costumam ser os tios a receber a maior parte do dote.
Aí começou a corrida do noivo e da sua família para reunir o que lhes foi pedido pela família da noiva.
Normalmente pede-se coisas da terra e alguns “mimos” para as tias e tios.
A família da noiva é responsável por receber a família do noivo com uma festa de mesa farta com iguarias da terra, após a reunião de entrega do dote.
O mais difícil
De modo geral é a capacidade financeira para responder ao dote solicitado pela família da noiva e o acordo entre as famílias que acabam de se conhecer.
No nosso caso tivemos dificuldade em suportar os gastos de 3 casamentos no mesmo ano o civil, o tradicional e o copo d’ água.
A nossa grande batalha foi a corrida pelo tempo.
O Alambamento e o casamento civil foram marcados para dia 19 de Outubro. Dia 20 casamos na igreja e por fim fomos ao copo d água. Isto para dar tempo dos pais e tios chegarem do exterior e presenciarem as cerimónias em Portugal. Foi exaustivo e stressante para nós.
Procuramos manter a calma e permanecer unidos como casal. Os damos de honra e alguns jovens familiares foram os nossos braços direitos na preparação do casamento religioso.
Chegamos tarde na conservatória devido a um desentendimento entre as nossas famílias que por fim se resolveu mas fomos multados pela conservatória por causa do atraso. Um atraso levou ao outro e chegamos tarde ao casamento tradicional que foi logo a seguir ao civil. A família do Josué também precisou aumentar a sua oferta à minha família como pedido de desculpas pelo atraso para a cerimónia tradicional.
O Alambamento terminou às 2 h da madrugada do dia 20. Dormimos tarde, acordamos muito cansados.
Nesse dia nem tudo correu como planeamos, mas alcançamos o nosso sonho, estamos casados.
Casamos no Civil, no Tradicional e na Igreja.
Presenciei o casamento dos meus queridos amigos . Aprendendo com eles que a perseverança é a chave do sucesso … enfim casados com muita determinação. . A vossa história não seria tão marcante senão houvesse esses obstáculos e lacunas .. ObrigadA por valorizar a nossa cultura.. “Um povo sem cultura é um povo sem alma ” O Josué Honrou-nos .❤
Desejo-vos o maior sucesso dessa vida ..
A tradição é realmente algo único e indiscutível. A representação de determinados símbolos para um podem não ser iguais para outros, mas quanto tudo se resume a respeito, torna-se belo.
Eu tive a oportunidade de estar presente, vesti-me a rigor, observei cada detalhe e amei. 😘
Não conhecia de todo como era o casamento tradicional angolano, mas saio deste post super esclarecida! 😊
Obrigada! 😘